sábado, fevereiro 10, 2007

Tabu: A Story of the South Seas, de Murnau (1931)



Tabu é um filme belo. A preto e branco, mudo, filmado no Tahiti, utilizando os nativos como actores e ainda assim um filme belo, um filme para não esquecer, sobretudo a sequência final.
Matahi e Reri, dois nativos de uma ilha no Pacífico Sul apaixonam-se. É um amor proibido pois a rapariga, Reri foi escolhida para ser a virgem tabu, nenhum homem lhe poderá tocar e quebrar esta tradição significa morte. Contra tudo o que seria previsível, vemos Matahi enfrentar, com sucesso, tanto as forças da natureza como os tabus, entusiasmando-nos com esta secular visão ocidental de que o homem, através do amor, tudo vence, mesmo os deuses. Matahi é o homem excepcional, é o Gama dos Lusíadas, o Ulisses da Odisseia, o Aquiles da Ilíada. Mas é no final inesquecível que Murnau nos mostra, com maior elevação, a humanidade de Matahi quando este enfrenta a única coisa que o homem não consegue vencer: a morte. Nunca um filme me mostrou de forma tão clara o desespero, tal como o entendo, em cada braçada penosa de Matahi, o cansaço que o afastava do barco que fugia, veloz, levando-lhe para longe a mulher proibida e a sua felicidade. Há ainda um momento em que quase acreditamos que Matahi conseguirá: o instante em que num esforço sobrehumano, consegue agarrar uma corda solta no barco. Segue-se o plano revoltante de uma faca que a corta, deixando Matahi para trás, sem esperança, até que o vemos desaparecer na escuridão do mar, afogado. Mas apenas porque a morte fez batota, apenas por isso. Tabu ajuda-nos a entender a esperança e a coragem mas também a associar o quase ao desespero e à desistência.
"Um pouco mais de sol - eu era brasa/ Um pouco mais de azul - eu era além. /Para atingir, faltou-me um golpe de asa... /Se ao menos eu permanecesse aquém..."