domingo, abril 29, 2007

Indie Lisboa 2007

Termina hoje o Indie Lisboa 2007.
Tocou-me especialmente este filme holandês "Forever" de Heddy Honigmann (2006). Se o filme se resumisse a uma incursão até ao cemitério Père-Lachaise em Paris, às conversas com as pessoas que por ali andam, diária ou ocasionalmente, já seria interessante pela riqueza dos motivos que levam cada pessoa até àquele cemitério ou pelas imagens de um cemitério fotogénico. Mas o filme vai mais longe: mostra-nos a vitalidade da arte a partir da evocação emocional dos túmulos de artistas sepultados. Ficamos com vontade ler Proust ou Oscar Wilde, de admirar os quadros de Ingres ou Modigliani, de ouvir Maria Callas, Chopin, de ver filmes com Yves Montand e Simone Signoret, de visitar novamente este cemitério. Mesmo que as evidências o mostrem (um túmulo no Père-Lachaise é uma evidência), a morte não existe para quem algum dia criou uma obra de arte capaz de emocionar os vivos. E o limite é "para sempre".

käthe kollwitz (Alemanha, Abril, 2007)

Käthe Kollwitz é considerada uma das grandes artistas alemãs. Acredito que boa parte deste entusiasmo se deva aos temas que aborda, obras muito marcadas pelos efeitos da guerra, da relação entre as mães e os seus filhos (Käthe perdeu dois filhos na guerra). Gosto sobretudo das suas esculturas, em especial uma: "mutter mit zwei kindern".

Colónia, Alemanha (Abril, 2007)

As cidades são sempre mais bonitas, vistas da outra margem. Dessa outra margem percebe-se o que dá recorte à paisagem de Colónia: a Catedral , a igreja St. Martin e o rio Reno.

Catedral de Colónia (Kölner Dom)
Levou 600 anos a ficar concluída, a construção iniciou-se no séc XIII e em 1880, quando ficou terminada, era o prédio mais alto do mundo. Segundo a lenda, é no seu interior que estão sepultados os restos mortais dos Reis Magos.

O passeio do Reno
(numa tarde soalheira de domingo, é um prazer ficar por ali, a ler sobre a cidade e a olhar o rio).

Vista de uma das torres da catedral (em baixo, o Museu Ludwig, do outro lado, o Köln Triangle)

Uma das praças mais bonitas de Colónia, a Fischmarkt.




Uma das principais ruas de lojas: a Schildergasse.

Vista do outro lado do rio Reno, do alto do moderno edifício Köln Triangle Panorama.


Fischmarkt

Um David muito pós-moderno, em frente ao Museu Ludwig, perto da Catedral.

quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril 1974


Para além do principal, o impacto histórico, a Revolução de Abril teve ainda as canções "E Depois do Adeus", "Grândola Vila Morena", os cravos na ponta das espingardas, a população emocionada nas ruas, militares em cima de chaimites Lisboa adentro (o pormenor delicioso de respeitarem os semáforos), coisas que à distância, adquirem uma ressonância mítica. Por tudo o que aconteceu nesse dia, a Revolução dos Cravos tem contornos quase literários, poderia perfeitamente ser ficção. Mas não, aconteceu mesmo e nem consigo imaginar o que seria viver sem liberdade.
Nunca estive (cronologicamente falando) tão perto de 1974 como no momento em que nasci mas quando se é criança até uma hora parece uma eternidade. Foi preciso crescer para sentir (cada vez mais) o 25 de Abril como um acontecimento próximo, quase tão marcante na minha ideia de nação como a língua que falo.
(o que será feito do menino do cartaz?)

terça-feira, abril 24, 2007

Universidade Umbold (Berlim, Abril/2007)


Max Liebermann

Max Liebermann, "Die Rasenbleiche", Wallraf-Richartz-Museum, Colónia (Alemanha)

Max Libermann foi uma das grandes descobertas desta viagem. Estará certamente entre os melhores pintores alemães, tendo sido também, enquanto homem, uma figura muito interessante e obstinada, capaz até de enfrentar o próprio kaiser. A partir de 1920 tornou-se presidente da Academia de Belas-Artes, lugar que perderia em 1933 devido à sua origem judaica. Morreu dois anos mais tarde, sozinho (a mulher suicidou-se para escapar aos campos de concentração).

segunda-feira, abril 23, 2007

Martin-Gropius-Bau (Berlim, Abril/2007)

Gerard Rondeau, "Out of Frame"

Brassai, "Statue du maréchal Ney dans le brouillard", 1932
Todos os dias passávamos à frente deste edificio (era a caminho do hotel), o Martin-Gropius-Bau e olhávamos para os cartazes anunciando a exposição do fotógrafo francês Brassai. Desde o primeiro dia ficou decidido que lhe faríamos uma visita. Assim foi e não nos arrependemos. Fiquei a saber que Brassai, para além das fotos-postal de Paris a preto-e-branco, também fez esculturas, pequenas e muito polidas, quase primitivas, algumas representando mulheres mediterrânicas, de ancas largas.
Também havia outro fotógrafo francês em exposição (este mais contemporâneo), Gerard Rondeau, tinha sobretudo fotografias de personalidades e ainda outras, muito interessantes, tiradas dentro de museus, mostrando quadros a serem tranportados, esculturas ainda envoltas nos plásticos protectores, descontextualizando as obras de arte da sua formalidade habitual, dando-lhes, nalguns casos, um carácter insólito.

sábado, abril 21, 2007

Caspar David Friedrich (Berlim, Abril/2007)

Mulher à Janela (Alte Nationalgalerie, Berlim)
Este é talvez o quadro do Friedrich que mais gosto e um bom exemplo de pintura romântica alemã. Uma mulher de costas (distanciada dos outros, só), à janela (dá sempre aquele efeito de distância/proximidade com o desconhecido), procurando na natureza expressão para as suas emoções mais pessoais.

Reinhold Begas (Berlim, Abril/2007)


Aqui está mais uma escultura do Reinhold Begas (está na Alte Nationalgalerie). Representa Psique a ser consolada por Pã. Ao vivo é bem mais impressionante, sente-se verdadeiramente o contrastre entre as duas figuras: homem/mulher, fragilidade/dureza, juventude/maturidade.
Parece que conseguimos ouvir Pã dizer a Psique: "Então miúda, o Cupido não merece toda essa tristeza..."

Rathausvorplatz (Berlim, Abril/ 2007)

Fonte de Neptuno com a Rotes Rathaus (Câmara Municipal Vermelha), ao fundo.
Fonte de Neptuno com a Marienkirche ao fundo.
No centro desta praça ergue-se a Fonte de Neptuno, obra de um escultor que fiquei a conhecer (há esculturas dele na Alte Nationalgalerie): Reinhold Begas. A fonte é admirável pelo pormenor das figuras que rodeiam Neptuno, caranguejos, peixes e quatro deusas que representam os maiores rios da Alemanha.

Porta de Brandeburgo (Berlim/2007)



Qualquer visita a Berlim implica uma passagem pela Brandenburger Tor, encimada pela conhecida escultura Quadriga. Os brasileiros chamam-lhe Portão de Brandeburgo ... é de facto mais um portão do que uma simples porta.

As ruas das lojas (Berlim, Abril/ 2007)

No lado Ocidental, a rua de compras mais animada é a Kurfürstendamn, mais conhecida como Ku´damm. É lá que estão os armazéns Kadewe. Gostei de saber que esta larga avenida foi rasgada no sítio de um antigo caminho para a floresta de Grunewald (Floresta Verde).


Na longuíssima Friedrichstrasse ficam os Quartier 205, 206 e 207, um conjunto de galerias com lojas de luxo (na maioria), ligados por uma passagem subterrânea. Também é nesta rua que fica o Checkpoint Charlie, o único ponto de passagem (entre 1961 e 1990) para estrangeiros entre Berlim Leste e Berlim Ocidental. Agora estão lá uns militares americanos com os quais é possível posar para uma foto a um euro (pena que só descobri no final ...).

Gendarmenmarkt (Berlim,Abril/2007)


Esta é uma praça muito bonita, bem perto da movimentada rua Friedrichstrasse. De um lado, ergue-se a Catedral Francesa, do outro, a Catedral Alemã, ao centro, a Konzerthaus, um edifício neoclássico do mais famoso arquitecto berlinense dessa época: Karl F. Schinkel. E depois há esplanadas, gente a apanhar sol, árvores nas partes laterais e a estátua do poeta Schiller, muito branquinha no meio da praça.

Kulturforum (Berlim,Abril/2007)





O contraponto à Ilha dos Museus (parte Leste) no lado Ocidental, é o Kulturforum. Lá encontrámos a Philharmonie (sede de uma das mais célebres orquestras da Europa, a Filarmónica de Berlim), a Gemäldegalerie e a Neue Nationalgalerie. Neste espaço, vivem-se experiências sensoriais únicas. Lá encontrei quadros que me emocionaram e não esquecerei tão cedo a experiência que foi assistir a um concerto na Philharmonie.

Ilha dos Museus (Berlim, Abril/2007)

O Bodemuseum com a Fernsehturm (torre da televisão) ao fundo. A torre vê-se de quase todo o lado em Berlim, é quase um farol, os berlinenses chamam-lhe Telespargel ou palito (a malta põe alcunhas a grande parte dos edifícios marcantes da cidade) . Continua a ser a estrutura mais alta da cidade embora tenha sido construída em 1969.





Em frente à Alte National Galerie estavam uns músicos. Ao lado deste, na foto, estava um outro que conseguia extrair música a partir da vibração dos dedos molhados nos bordos de copos de vários tamanhos. Fiquei vidrada a pensar no talento dos alemães para a música.



Foi nesta ilha que nasceu Berlim, nos começos do séc XIII. Aqui encontramos a Berliner Dom (catedral de Berlim) e uma das maiores concentrações de museus que tenho visto, entre os quais o Bodemuseum, o AltesMuseum, o Pergamonmuseum e a fantástica Alte Nationalgalerie.

Maçãs (Berlim, Abril/ 2007)

Comprar maçãs em Berlim não é tarefa simples, a variedade é inacreditável.

Memoriais (Berlim, Abril/2007)




A memória dos judeus mortos durante o Holocausto é evocada um pouco por toda a cidade. Há sítios, como a Grosse Hamburger Strasse (uma das principais ruas do antigo bairro judeu de Berlim) onde é inevitável a sensação de "frio na barriga".

domingo, abril 15, 2007

Charlottenburg (Berlim, Abril/2007)


Charlottenburg é uma das zonas mais encantadoras de Berlim, com os seus relvados, árvores e um lago. Era originalmente o retiro de Verão da rainha Sophie Charlotte e o complexo conseguiu sobreviver desde o séc XVIII (coisa rara numa cidade como Berlim). Havia muita gente a passear-se por ali (era fim-de-semana).

Árvores (Berlim, Abril/2007)

(árvores no Tiergarten, o pulmão de Berlim)


O meu olhar andava habituado às paisagens com pinheiros e eucaliptos. Em Berlim, boa parte das árvores são tílias, bordos, áceres ou plátanos. Nesta altura do ano, algumas destas árvores já começavam a ter folhas e flores, outras ainda estavam muito despidas e invernosas.


(há muitas árvores e um lago com patos em Charlottenburg)


(a bucólica Bebelplatz)



(estas árvores quase dão vontade de viver nestes prédios de muitos andares ao melhor estilo soviético)

Karl-Marx-Allee (Berlim, Abril/2007)





Demora-se bem mais de uma hora a atravessar esta monumental avenida, a mítica Karl-Marx-Allee (chamada Stalinallee até 1961), a primeira "avenida socialista" da RDA. No meio daquela arquitectura estilo "bolo de casamento" foi bom encontrar oásis como o Café Moscovo ou o fantástico Kino International.