quarta-feira, novembro 29, 2006

Paris je t´aime

Fiquei com vontade de voltar a Paris e caminhar pelos seus bairros, depois de ver este Paris je t´aime. Trata-se de um filme colectivo, composto por uma sucessão de pequenas histórias, da autoria de diferentes realizadores. Em comum, têm o facto de promoverem Paris como uma cidade especial onde afectos de toda a casta acontecem, desde o amor maternal, ao amor paixão, ao amor à primeira vista, passando pelo amor surreal (entre dois mimos) até culminar no amor à própria cidade. A única pena é irmos perdendo o rasto às personagens pois as histórias são curtas e independentes entre si. Se nunca tivesse ido a Paris, até poderia julgar tratar-se de uma forma inteligente de promover a cidade e o seu turismo. Mas quando penso na única vez em que lá estive, as certezas de que este filme seja apenas ficção diminuem drasticamente.

Declaração: sou a favor das casas coloridas.





Casas na Costa Nova (perto de Ílhavo), Aveiro e em Ovar.

Mário Cesariny



"ama como a estrada começa"

Lembro-me da interrogação sobre o sentido deste verso, da primeira vez que o li. Como acontece com toda a poesia, acabei por lhe encontrar um sentido íntimo embora sempre tenha mantido a curiosidade em saber o que o autor (Cesariny) tinha em mente quando o escreveu. Recentemente, num documentário que passou na TV, pude finalmente ficar a saber porque o poeta respondeu assim à tão esperada pergunta: "Não sei o que este verso quer dizer... mas quer dizer."

Esta resposta não é apenas uma pista para entender o Surrealismo. É uma pista para entender a poesia.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny de Vasconcelos (Agosto de 1923 - Novembro de 2006)


"queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma."

Para ouvir (a voz de Cesariny n´Os Poetas):

domingo, novembro 19, 2006

Lisboa, esta tarde

Em cima: vista do café Noobai (Miradouro de Santa Catarina);
Em baixo: morador no Bairro de Santa Catarina, à janela.

Como o Cinema era Belo

The Ghost and Mrs. Muir de Joseph L. Mankiewicz (O Fantasma Apaixonado, na tradução portuguesa) é um dos filmes que passa neste ciclo de cinema na Gulbenkian. Sobre ele, escreveu Bénard da Costa:
"Não há filme mais triste. Não há filme mais bonito. Deixem-me ficar ao pé da mulher que nasceu tarde de mais para atravessar os sete mares e para ver o sol da meia-noite. Deixem-me ficar ao pé do capitão que morreu cedo de mais para a poder beijar ou para poder deitar-se com ela. Ou deixem-me acreditar que não há cedo nem tarde e que o único amor que existe- é o amor surreal, esse que Rex Harrison e Gene Tierney encontram no final, quando desaparecem na névoa, atravessada a última porta."
É certo que uma obra de arte vale por si, não necessita de metalinguagens para nada. Mas Bénard da Costa consegue sempre acrescentar qualquer coisa, algo que vem consolidar o nosso amor por determinado filme. Há uma afectividade contida, emocionada, nas críticas que faz aos filmes que nos dá a conhecer. Bénard da Costa fala de alguns filmes usando do mesmo tipo de ternura que eu usaria para falar do gato Pirolito que me morreu na infância ou da nespereira que o meu pai plantou em criança. Os filmes são marcos na sua vida: "(...) fui buscar a mais bela, esse The Ghost and Mrs. Muir de Joseph L. Mankiewicz, que me persegue desde que o vi, ainda não tinha 13 anos, até que o revi, nesta mesma Gulbenkian, ainda não tinha 45 anos e nunca mais pensei que nestes últimos 25 anos o fosse rever tanto e tanto até quase o saber de cór." Talvez não seja abusivo dizer que os filmes são a sua vida.

Como o Cinema era Belo

Inserido nas comemorações dos 50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian (1956-2006), o ciclo "Como o Cinema era Belo" apresenta-nos, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, 50 filmes inesquecíveis, distribuídos por sábados e domingos até 18 de Fevereiro/2007.
Avizinham-se fins-de-semana bem passados, é o que é.

terça-feira, novembro 14, 2006

Rumo ao Sul: Miróbriga


D. Clarisse contou-me, enquanto segurava nestas bolotas, que em rapariga, costumava ir à feira de Santo André comprar alcomonias, figos passados, rebuçados de pinhão ... e colares de bolotas.

Rumo ao Sul: Miróbriga, Alentejo


Pensar que no séc. V-IV a.C. já por aqui andavam povos, pisando estas pedras...
No outro dia, num programa na televisão, Carlos Ascenso André (tradutor da Arte de Amar de Ovídeo) reiterava aquilo que sempre tenho ouvido dizer: está tudo nos clássicos, a partir daí, a humanidade tem-se limitado a transformar o que já foi inventado. E isto aplica-se a todas as realidades, sejam elas técnica narrativa, arte da sedução (como nos ensina Ovídeo) ou organização do espaço urbano, como no caso de Miróbriga e de outras cidades romanas.
Neste capítulo do urbanismo, temo até em afirmar que as reinvenções posteriores, em muitos casos, só degeneraram.

domingo, novembro 12, 2006

Rumo ao Norte: Vidago


Talvez até fique no mesmo quarto ...

Rumo ao Norte: Vidago


Daqui por dois anos volto lá, irei à procura destes caminhos, tentarei repetir o percurso de bicicleta pelo meio de cedros, plátanos, pinheiros, azevinhos e medronheiros. Quando conseguimos, voltamos sempre aos lugares onde fomos felizes.

sábado, novembro 11, 2006

Rumo ao Norte: Vidago



O projecto de requalificação é da autoria de Siza Vieira. Esperemos que ele saiba manter a alma romântica do sítio e a relação da casa com as árvores em volta.

Rumo ao Norte: Vidago


O Vidago Palace Hotel encerra para obras de requalificação dia 12 de Novembro e só volta a abrir portas daqui por 2 anos. Fui lá despedir-me.

terça-feira, novembro 07, 2006

Rumo ao Norte: Vidago

Foi por causa destas árvores que rumei ao Norte.
Penso muitas vezes nelas; penso agora nelas, na chuva que neste instante (certamente) se desaba sobre as suas folhas, verdes, amarelas e avermelhadas.

Rumo ao Norte: Vila Real




Casa de Mateus e Sé de Vila Real (em baixo)
*
Há muito que queria ir à Casa de Mateus. Como explicar isto? Quando se viaja, é frequente encontrar sítios inesperados, que nos surpreendem. Mas entrar finalmente numa realidade que até ali só era conhecida por muito nos depararmos com ela num livro ou no ecrã de um computador, é outra coisa, é o que fascina muitos viajantes. Basta atentarmos no exemplo dos museus: é à volta dos quadros mais reproduzidos que vemos mais gente a acotovelar-se, não é que esses quadros sejam melhores do que outros menos conhecidos, é porque naquele momento aquele quadro até ali longínquo e inacessível torna-se real, está ali, concreto, diante de nós. Pisar as pedras em Mateus, passear ao longo do seu espelho de água, tocar o cedro centenário, foi para mim ultrapassar (finalmente) a sensação de lonjura que sempre me provocaram as fotografias da Casa impressas num volume de História da Arte Portuguesa que para ali tenho guardado. Foi desvendar um mito.

Rumo ao Norte: Peso da Régua

Aqui estamos em pleno Douro vinhateiro. Espero muito voltar a fazer este percurso que tanto me impressionou: entre Sabrosa e o Pinhão e dali, junto ao rio, até Peso da Régua. O Orlando Ribeiro explicava a natureza do povo português de acordo com o espaço geográfico onde este se insere. Sempre achei esta hipótese pouco plausível mas ver aqueles socalcos fez-me compreender a tenacidade das gentes do Norte de uma maneira diferente.

Rumo ao Norte: Lamego


Esta terra tem magia. Talvez seja do musgo, talvez seja do fumo dos assadores de castanhas nesta altura do ano, do Escadório da N.ª Sr.ª dos Remédios. Ou talvez seja da bôla, uma delícia.

Rumo ao Norte: Viseu

Adro da Sé, Viseu
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Quem quiser ver um corropio de gente e de carros, é abeirar-se num domingo de manhã ao Adro da Sé, em Viseu. Famílias inteiras, aprumadas nas suas roupas engomadas chegam, partem, comentam aqui e ali que "o chenhor padre hoije falou que foi um regalo" ou "achjeita o bestido, Cárina". Enfim, uma ternura de gente, repartindo-se ora pela missa da Sé, ora pela da Igreja da Misericórdia, mesmo em frente.
Por mim, decidi-me pelo Museu Grão Vasco (que há muito tinha curiosidade em visitar), instalado mesmo ao lado da Sé, no Paço dos Três Escalões. Quando saímos da visita ao museu, as missas já tinham terminado e o adro quase deserto, já nem parecia o mesmo "debem ter ido almoçar", pensei; e muito bem fizemos em seguir-lhes os passos.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Rumo ao Norte: Figueiró dos Vinhos

Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos
*
Aos domingos de manhã, a mãe entrava de rompante no nosso quarto de meninas, puxava com energia as persianas até ao cimo, lá fora, chuva e frio, os cobertores pelas orelhas, resmungávamos "só mais um bocadinho" mas sempre em vão pois aquelas mãos frias de tanque e lixívia eram implacáveis, destapavam-nos, obrigavam-nos a entrar na banheira, onde nos esfregavam à vez, a mim e à minha irmã Carla, cada uma tiritando de frio para seu lado, o sabonete a arder-nos nos olhos. Eram ainda essas mãos que nos vestiam as camisolas de lã grossa (algumas picavam no pescoço), nos desenriçavam os nós nas pontas dos cabelos, as mesmas mãos que tínhamos de agarrar, em passo de corrida, para não ficarmos para trás, a caminho da missa, quantas vezes com os sapatos domingueiros a roerem-nos os pés. O que as nossas pequenas cabeças nunca perceberam foi para que raio era toda aquela lufa-lufa se depois o tempo parava durante uma interminável hora. Valia-nos a imaginação, pois enquanto os nossos corpos oscilavam entre o ajoelhado, o em pé e o sentado, esta ora corria atrás da pequena ovelha da imagem do São João Baptista menino (padroeiro de Figueiró) ora mergulhava na água translúcida que o pintor Malhoa tão bem soube captar no retábulo da Capela Mor, representando o baptismo de Cristo, provavelmente o quadro que mais longamente observei até hoje.