sexta-feira, setembro 01, 2006

Sonhar com Xangai (Wang Xiaoshuai)


A metáfora: uma família constituída por duas gerações apresenta-se como metáfora da China e da transformação que nela ocorreu ao longo de duas décadas que vão dos anos 60 à altura em que se passa o filme, nos anos 80. E como são abismais as diferenças entre a China dos anos 60 e a China que desabrocha nos anos 80, também o conflito geracional é apresentado como um drama, colocando num lado o pai desiludido com o que o país lhe prometeu, autoritário e oprimido, perdido na sua identidade geográfico-afectiva e do outro lado, a filha ainda prisioneira da rigidez do pai mas com uma lucidez e maturidade que denunciam já uma mudança.
A tragédia: é o sentimento de exílio da geração dos pais, deslocada das cidades para as províncias nos anos 60 para ali fazerem a "terceira revolução industrial", que irá despoletar a tragédia. A despromoção a "gente do campo" sentida pela geração mais velha, indo trabalhar para as fábricas no interior do país, nunca é vista por eles como definitiva. Quando, totalmente desorientados e exaustos, tentam regressar às suas cidades natais, já se passaram 20 anos e os filhos não querem voltar. Para a geração mais jovem destas famílias, Xangai, a grande cidade, é apenas um sonho, uma interrogação. A sua vida está nas pequenas terras onde cresceram, onde vivem os seus primeiros amores ainda juvenis, sentidos de forma exponencial e definitiva. Quando arrancados à força, estes amores contrariados tornam-se obsessões, tresloucam e o resultado são actos extremados como a tristeza absoluta e silenciada, a violação ou a morte.
Um filme que é uma metáfora sobre a China mas cuja tragédia (do exílio, da imigração, do amor contrariado, da proibição e censura, do conflito geracional, da mudança histórica...) é universal.