quarta-feira, agosto 23, 2006

Sábado de manhã, no Cabeleireiro do meu Bairro

No Cabeleireiro do meu bairro faz-se de tudo um pouco: arranjam-se cabelos, mãos, pés, depilam-se pernas, virilhas, buços e sobrancelhas, fazem-se piercings e claro, sabem-se as fofocas mais quentes. Esta última tarefa é particularmente exigente, carecendo absolutamente dos funcionários que ali trabalham, um permanente dar à língua e um frenético receber de chamadas (a informação tem de vir de algum lado). O Dádo é um dos mais concorridos, o seu telemóvel toca de 15 em 15 minutos (palavra!) e ele lá vai fazendo malabarismos com o secador, a escova de enrolar e os cabelos das clientes, tudo para conseguir tirar o telemóvel (finalmente) do bolso das calças que estão para lá de justas, ó Dádo essas calças estão mesmo é apertadas!
Da última vez que lá fui, o Dádo recebe uma mensagem que deixa as "mininas" com a pulga atrás da orelha "Qué que cê tá sorrindo, Dádo? Que mensagem cê tá lendo? Deixa eu ver, deixa eu ver!". Sem nunca largar o secador, a escova e os cabelos que tinha em mãos, Dádo inclina a anca, oferecendo o bolso com o telemóvel à manicure Dirce "Puxa Dádo, que calça apertada, eu heim" ... Dirce demora algum tempo a ler a mensagem, depois lança para Dádo um olhar cobiçoso "Mas qui lindo! ... deixa eu ler prás mininas, deixa Dádo?... Então eu vou ler, ouçam só o que enviaram para o Dádo, cês não vão nem acreditar nesta boniteza: vai chegar um dia em que você vai pedir para eu escolher entre a minha vida e você; e eu vou ter que dizer que escolho minha vida e você vai-se afastar de mim sem saber sequer que minha vida é você!... Não é lindo gente?...Puxa que coisa mais linda, preciso mandar isto pra alguém, a quem é qui será que eu vou enviar isto?"
E o rosto de Dirce só fica sério quando, depois de muito pensar alto, acaba por dizer "Puxa Dádo, não tenho ninguém pra quem enviar isto!"