sexta-feira, agosto 18, 2006

Vizinhança

(a fantástica Nina no blog da Dina)
Na minha rua vive uma senhora dos seus sessenta anos que passa o dia à janela. Arranja-se muito bem arranjada e põe-se à janela. Talvez esteja à espera de uma serenata, talvez seja apenas cusca, talvez seja apenas só. Não sei. Só sei que de manhã vou trabalhar e ela está à janela, à tarde venho do trabalho e ela está à janela, à noite chego do cinema e ela à janela ... até já estranho se não a vejo lá.
Penso que ela não deve ter muito para ver, talvez apenas uma animaçãozita de vez em quando, uma briga de namorados, o eléctrico que não passa por causa dos carros mal estacionados, uma manifestação a caminho da Assembleia da República ... pouco mais (e daí não sei, um dia ainda hei-de experimentar passar o dia à janela).
Acontece que ultimamente, eu tenho sido a animaçãozita do dia da minha vizinha, pelo menos um "pico de animação" no seu dia. Anteontem, quando vinha do trabalho, vi um cão que se parecia imenso com a cadela dos meus pais quando era mais novita. A nossa cadela chama-se Nina e na família temos uma "voz de Nina", uma entoação ridícula que utilizamos quando falamos com ela, quase como se fosse um bébé. Não resisti, o cão estava a uma distância razoável de mim e como não houvesse ninguém por perto, estive nisto uns bons longos 5 minutos: "pequena Niiina, piquenitaaa, fofiiiinha! Nina! Nina! Oooooh, fantástica Niiiiina!" Como a cadela não me ligasse nenhuma (não era a Nina, porque se fosse já estaria a abanar a cauda), resolvi ir à minha vida e conforme me viro, dou com os olhos da tal vizinha, uns olhos que não se riam, nem sequer sorriam, estavam apenas espantados a olhar para mim.
Ontem, já esquecida da cena do dia anterior, faço o meu percurso habitual, na vinda do trabalho. E de repente, tive que parar. O raio! Então não é que uma plantazeca, um género de trepadeira, que nasceu encostada a um prédio quase em frente ao meu, está enorme, verdadeiramente está do tamanho de uma árvore?! Mas como é que eu nunca reparei nisto a crescer? E devo até ter falado alto enquanto olhava e voltava a olhar a planta, de todos os ângulos, a boca aberta, a coçar a cabeça, mas que bom, algum verde no meio dos prédios, "esqueira" que não a cortem. E quando me cansei de mirar e me viro, lá estava ela, a vizinha outra vez a olhar para mim, muito espantada como quem pensa que "esta criatura passa-me aqui todos os dias à porta, mas o que é que lhe deu agora para se pôr a falar com a verdura? Tá maluquinha". Dessa vez, não consegui, tive de me esconder, perdida de riso....
Hoje (e eu tenho de escrever isto senão esqueço-me) encontrei-a na rua! Encontrei-a na rua, a andar e tudo! Não podia acreditar, tive de ficar um bom bocado a olhar, a ver se era mesmo ela. Era mesmo ela e de tal forma abismada a devo ter olhado que certamente a deixei outra vez a cismar sobre a minha maluquice.